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Foto do escritorInstituto Mamirauá

Com reconhecimento aos melhores trabalhos, Instituto encerra Simcon

Atualizado: 29 de mai.




Publicado em:  5 de julho de 2019


Foram três dias de apresentações, mais de 60 trabalhos apresentados e cerca de 100 ouvintes. Uma oportunidade para pesquisadores, técnicos e parceiros discutirem os rumos da conservação na Amazônia, além de compartilhar resultados. Ao final do último dia (5), foram divulgados os trabalhos premiados, escolhidos entre apresentações orais e pôsteres e avaliados por pesquisadores e técnicos do Instituto Mamirauá. 

Conheça os vencedores:


Pibic

1º lugar - Objetos usados no processamento da mandioca nas casas de farinha em comunidades da Floresta Nacional de Tefé, de Halisandra de Souza Dias

2º lugar - Ensino sobre peixes e bacia hidrográfica usando ciência cidadã e material pedagógico, de Cássio de Souza Chaves


Pôsteres 

1º lugar - Caracterização florística do sítio arqueológico Tauari, na Floresta Nacional de Tefé, Amazonas, Brasil, de Wellen Lima de Oliveira, Leonardo Pequeno Reis, Guilherme de Queiroz Freire, Mariana Franco Cassino

2º lugar - Previsão de distribuição e perda de habitat para o macaco-barrigudo e sua sobreposição de nicho com o coatá-de-cara-preta, de Thiago Cavalcante, Anamélia Jesus, Rafael Rabelo, João Valsecchi, Adrian Barnett


Oral

1º lugar - Artesãs da Reserva Amanã: aprendizado, habilidades e a construção de uma comunidade de prática, de Marí­lia De Jesus da Silva e Sousa, Ana Claudeise Silva do Nascimento, Ronisson de Souza Oliveira

2º lugar - O sítio Boa Esperança no ano 1000 da era cristã: percepções da paisagem a partir do registro arqueobotânico, de Emanuella da Costa Oliveira, Myrtle Pearl Schok, Eduardo Kazuo Tamanaha, Márjorie Lima, Mariana Franco Cassino e Márcio Amaral


20 anos de pesquisas

Para encerrar o 16º Simcon, o pesquisador João Valsecchi do Amaral, diretor-geral do Instituto Mamirauá, apresentou uma reflexão sobre os 20 anos de pesquisas da instituição. A trajetória de produção científica ocorre antes mesmo da criação do instituto. No início, as pesquisas eram desenvolvidas pela Sociedade Civil Mamirauá, e, antes disso, os primeiros estudos eram conduzidos pelo biólogo José Márcio Ayres, fundador do Instituto Mamirauá. 

O legado da trajetória do biólogo paraense, que atuou com a antropóloga Deborah Lima, reflete-se até hoje nas pesquisas desenvolvidas pela instituição: "Nós temos um diferencial em conduzir uma pesquisa de forma participativa, e elas têm uma função muito social. Mais de 90% das nossas pesquisas são feitas sobre gestão de recursos naturais. São muito humanas. Conservação e manejo com forte base em conhecimento científico", afirmou João.

Segundo o pesquisador, valorizar o conhecimento tradicional com conhecimento científico é a marca institucional e o sucesso que resultaram em práticas sustentáveis de manejo, como o manejo de pirarucu, e com as novas iniciativas em implementação como o manejo de jacarés. "O principal foco do Instituto Mamirauá são as florestas alagáveis da Amazônia, em especial a várzea, por ser o ecossistema mais pressionado e mais ameaçado de todo o bioma", reforçou.

O diretor finalizou a apresentação com um resumo dos indicadores de pesquisa do Instituto Mamirauá pactuados com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Uma dessas metas representa as pesquisas voltadas para conservação da biodiversidade, com apresentação de indicadores de número de artigos, capítulos, número de eventos cientí­ficos, dentre outros. 


"As populações estão mais conscientes para cobrar polí­ticas públicas para a região"

A manhã do último dia do simpósio também teve a palestra "Cenário demográfico da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã", ministrada pela pesquisadora Ana Claudeise do Nascimento. A socióloga presentou os resultados do recenseamento realizado em 2018 na Reserva Amanã, pelo Grupo de Pesquisa em Territorialidades e Governança Socioambiental na Amazônia do Instituto Mamirauá.

O estudo entrevistou moradores e usuários da reserva em 132 localidades e 1.045 domicílios, chegando ao número de 5.448 pessoas que utilizam ou moram em Amanã. Uma porção de 56% dessa população encontra-se na faixa etária entre 10 e 19 anos de idade. A faixa etária engloba também a maioria de pessoas que se muda das comunidades para as cidades, predominantemente, para Tefé, no Amazonas. No geral, o deslocamento acontece para que esses jovens possam ter acesso a escolas melhor estruturadas.  

Descobriu-se que a taxa de crescimento anual da população na unidade de conservação é de 0,2%, com um aumento para 0,9% nas áreas de maior densidade populacional. Já a densidade demográfica observada foi de 0,19 hab/km². Em média, as mulheres nessas comunidades têm seu primeiro filho aos 17 anos e o último aos 28. Entre os resultados mais relevantes está a expressiva queda na taxa de mortalidade infantil de 38,5% em 2001 para 14,4% em 2017.

O recenseamento é essencial para avaliar os efeitos das ações do instituto pela melhoria na qualidade de vida dos moradores da reserva e para orientar as polí­ticas públicas voltadas para essas populações tradicionais, historicamente desassistidas pelo poder público.


"Como as artesãs aprendem?"

Essa foi uma das perguntas norteadoras do estudo apresentado pela pesquisadora Marí­lia Souza, do Instituto Mamirauá, com a palestra "Artesãs da Reserva Amanã: aprendizado, habilidades e a construção de uma comunidade de prática", que procurou demonstrar como as mulheres do grupo de artesãs Teçume da Amazônia, moradoras da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, se engajaram coletivamente e afirmaram uma "identidade de artesã".

Marí­lia explicou que, no início, o grupo tinha apenas duas mulheres que sabiam produzir o teçume a partir do cauaçu, planta comum na região. Ao longo de duas décadas, o grupo ganhou número, força e conhecimento, envolvendo diversas pessoas e trabalhando atualmente com a comercialização de tupés, balaios, peneiras, paneiros e outros tipos de artesanato.

Para que isso acontecesse, foi necessário que as mulheres se reunissem para aprender a produzir o artesanato a partir do cauaçu. "A aprendizagem foi central nas interações do grupo de mulheres-artesãs e para além do grupo", explicou a pesquisadora.

Esse conhecimento foi disseminado em oficinas e através das relações de parentesco e compadrio entre comunitários. Com o acúmulo de experiência e o aprendizado em grupo, essas mulheres desenvolveram tinturas próprias artesanais, a partir de plantas regionais, tais como o crajiru, o anil e a safroa.

Texto: Bernardo Oliveira, com colaboração de Eunice Venturi

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